quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
A ausência é como uma dor que se acostuma aos poucos, uma ferida antiga que nunca cicatriza por completo. Os dias arrastam-se um após o outro, alguns vencidos pelo marasmo, outros por árduas batalhas onde jamais se vislumbra uma vitória final. O cenário do cotidiano repete como uma foto antiga sobreposta milhares de vezes, cada vez mudando um novo detalhe. As pessoas ao redor são retratos de retratos que amarelam aos poucos, alguns acinzentam depois, outros se perdem nos álbuns de memórias. Os selos antigos, as coleções de gibis, os brinquedos prediletos; tudo ficou para trás – uma página virada do livro – mas quando realmente uma linha terminou e na outra folha iniciou-se um parágrafo? Quando sumiram os velhos amigos da infância e os grandes animais de estimação? Quando os avós deixaram de estar presentes quando se corta o bolo de aniversário? Quando aconteceu a sensação mágica do primeiro beijo? Quando os sonhos foram substituídos por desejos supérfluos de ter mais? As ruas perdem as cores aos poucos, cada dia um pouco da fantasia se vai e os ombros ganham um pouco de peso. A televisão, o jornal, tudo isso reprisa notícias de ontem que reprisam histórias de dez anos atrás: o “não vale a pena ver de novo” da realidade enfadonha. Em cada esquina casais entregam-se às carícias banais sem compreender o aprecio de um abraço, em cada loja o desespero da falta vomita gritos de agonia, em cada pessoa habita uma árvore seca que já morreu. A semente da vida já morreu. Os homens são autômatos que aprenderam a doutrina do “obedeço”, a ideologia do medo – ou pior – adotaram o triste caminho da indiferença. Já não se importam mais o quanto as árvores são verdes, já não veem o quanto as maças são vermelhas. Os semi-homens estão presos em um ciclo gradual para a auto-extinção, convivendo com rostos desagradáveis que não suportam, elogiando o horrível, banalizando o poético. Hoje importa mais futebol do que literatura, a arte reflete a realidade e liberta, mas a indiferença mantem todos presos – os olhos fixos na foto antiga sobreposta por mil vezes, o coração sufocado pela necessidade de respirar liberdade. A foto é uma prisão quadro a quadro, uma história contada de um ponto de vista só, sete bilhões de histórias vistas pela mesma janela que delimita os quadros de uma foto. Pedem tanto a deus, mas não conseguem dividir nem mesmo um pouco, sob a desculpa de não ter o bastante. Insistem no D maiúsculo em uma palavra, mas esquecem as genitoras que choram a produção promíscua insincera da violência. Os homens acostumam-se com a ausência, todo dia eles perdem um pouco. Hoje perdem um pouco dos sonhos, um pouco dos dias, um pouco de tudo mais. Amanhã perdem bens que não voltam jamais, e a vida ficou para trás como uma fotografia antiga que nunca saiu do mesmo lugar.
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Você reclama do meu cabelo bagunçado e da franja comprida que cai no meu rosto toda hora.
Você reclama dos meus shorts considerados curtos, e do decote na minha blusa. Reclama das minhas jóias, fala do meu sorriso que mostra a gengiva, reclama da minha expressão de cinismo quando quero te irritar, ou da minha face séria.
Você reclama quando eu mexo nos seus óculos, dizendo que eu fico diferente.
Você reclama da forma como eu te encaro, sempre, prestes a tirar a sua paz.
Reclama do modo como eu sento com as costas curvadas, porque isto lhe dá agonia e logo pede para que eu me endireite.
Você reclama das minhas birras e do meu charme, reclama da minha unha grande e do meu cabelo solto. Reclama da forma como eu sempre me sento abraçando o travesseiro.
Reclama do meu 'doce', dos meus ataques histéricos, da minha risada e reclama da forma como eu caminho, como eu me machuco sempre, por ser desastrada e de como vivo aos tropeços.
Reclama até da forma como eu chamo por você, dizendo que faço manha pra você me mimar, ou que quero algo. Você reclama dos meus abraços repentinos, e da forma como eu sou escandalosa.
Reclama da minha falta de criatividade, ou do excesso dela. Reclama até dos meus desenhos! Reclama do meu alongamento, reclama da minha reclamação! Reclama quando as vezes eu não consigo parar de te beijar, dizendo que eu sou um 'grude'.
Você reclama da minha mudança de humor repentina, reclama da forma como eu sempre sou 'certinha', reclama dos cobertores na minha cama, da bagunça no meu quarto, reclama do meu cachorro histérico e da minha memória boa.
Você reclama quando eu não presto atenção em você e reclama quando eu sinto vergonha.
Reclama quando eu escondo o rosto, ou das raras vezes que eu faço você esconder o rosto.
Você reclama quando eu estou muito perto, mas me perturba quando estou longe. Reclama da forma como eu lhe chamo a atenção, reclama do meu cheiro, dos meus perfumes, do meu suor, do meu calor, reclama do meu frio, da minha fome, do meu sono, do meu cansaço, reclama do meu horário de estudo e até mesmo da forma como eu o faço. Reclama de como eu brigo, reclama das minhas confusões, reclama da minha mente!
Reclama das minhas fotos e das minhas opiniões!
Você reclama de mim, todos os dias, o dia todo...
Mas eu não ligo. Eu não ligo porque eu sei bem que te perturba não me perturbar. Quando você me diz que as minhas manias são chatas, e que meu hobby é te irritar... eu sei que você só diz isso para ter um pretexto para me confrontar e reclamar de mim todos os dias.
Porque no final das contas, quem não consegue ficar quieto é você.
E eu gosto disso. É difícil saber explicar, mas a sensação de encontrar os seus olhos quando você entra em contradição, ou cai em tentação é indecifrável... Talvez por ser algo muito raro de se ver, mas é isto que torna especial.
Você me conhece melhor do que eu mesma, conhece os meus comandos, como se eu tivesse vindo com um manual para você. Você é o único que consegue regular o meu sistema, que consegue mexer com o que eu sinto de forma tão brusca. Basta apertar uns botões e de repente eu estou com raiva, mais alguns comandos e estou em cima de você como se o mundo fosse acabar em minutos.
Você me tira de um precipício para me levar até a loucura, lugar este que eu nunca teria conhecido se não fosse por você.
Você sabe a forma de me abraçar, de me beijar, sabe a forma como deve me acariciar, como deve falar... porque você sabe como eu funciono, como eu sou.
Você sabe a formúla de como me manipular e não tenho medo de que controle os meus sentimentos, porque confio em você e sei que jamais me machucaria.
Nós nunca queremos ir embora, o desejo de ficar nos impede disso. O desejo pelo desejar, pelo estar junto, pelo abraçar, pelo beijar, pelo conversar... e até hoje não sei como isto é possível.
Você revira minha cabeça, controla o meu coração, brinca comigo e me deixa brincar contigo como uma criança. Uma criança que nega o doce, mas que quando ninguém está olhando, o pega.
Você reclama, mas você me deixa...
Eu reclamo da sua reclamação, mas eu continuo a te perturbar, porque sabemos que o nosso jogo é único. Porque ambos sabemos que é bem como nós.
E nada é como nós.
E hoje, meu bem, eu chamo isso de elevação, porque você me faz sentir como se eu pudesse voar.
Eu te amo.
Gabriela Pinheiro
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