
As ruas são todas iguais, cada vez mais. A sensação exata que as coisas importantes já se foram, uma a uma, preenche os meus dias tediosos – arrastados sem nenhuma motivação nova. Os sonhos parecem distantes como um quadro antigo, as paixões morreram nos poemas escritos de improviso, o gosto pelas coisas se vai pouco a pouco também. As poucas amizades que cultivo não preenche a falta que sinto, parte de mim morreu nos corredores dos hospitais a outra parte persiste agarrando-se ao pouco de esperança que resta. Os meus dias sozinho estenderam-se por semanas, meses, e já faz um ano. E amanhã serão dois, e três. As minhas alegrias morreram sufocadas nos exaustivos dias de espera por um diagnóstico positivo, a fé morreu quando percebi que não acreditava mais que algo bom viesse depois das noites de tempestade. Agora, só me sobra a sinfonia incessante da chuva fria no asfalto. O meu caminho é uma estrada vazia habitada por espectros do passado, dos dias em que ainda havia sorrisos, dos dias em que ainda havia uma razão verdadeira para seguir em frente: já não existe mais. Não existe ninguém mais na estrada que sigo: todos se foram, e eu não quero ninguém nela nunca mais. Porque a indiferença dói menos do que a perda, e a perda se disfarça na indiferença.
1 comentários:
Disse muito bem, coisas que eu sempre quis dizer.
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