domingo, 3 de junho de 2012

Desabafo


                Sonhos, responsabilidades, lugares, pessoas, tudo isso amontoa arrastando-se nos meus dias. O mundo depois de crescer não era tão divertido quanto eu conseguiria imaginar há alguns anos atrás. Quanto mais eu ando mais as paredes perdem sua tintura, os prédios estão ruindo e tudo está ficando cada vez mais cinza. O céu não é mais tão azulado e as coisas não são mais tão simples assim. As horas estão cada vez menos vagas, as pessoas estão cada vez mais sozinhas enquanto todo mundo é obrigado a estar junto a todo instante.

                Pra cada dia diferente existe um manual de um milhão de páginas, ensinando o que deve e o que não deve ser feito. Cada novo projeto, cada novo passo dado, exige esforço na incerteza da concretização. Aquele papo sobre “seguir os sonhos” não parece mais tão fácil como era antes, “fazer o que gosta” passou a ser “fazer o que gosta e bem feito”. O peso nos ombros curva as pessoas e faz com que elas se esqueçam de olhar para as nuvens e vejam apenas o cinza do concreto.

                Viver um grande amor é muito mais complicado do que está escrito nos contos de fadas, esforço nem sempre é recompensado com realização. Às vezes não existe uma solução pra todas as coisas, as pessoas nem sempre vão tentar entender suas dificuldades.

                O mundo que eu vivo é o mundo que distingue as pessoas pela cor da pele, dá valor às pessoas de acordo com os automóveis que elas dirigem e que define o homem de acordo com a quantidade de moeda que ele guarda no cofre. É o mundo onde se distribui beijo na boca sem nem ter aprendido a se apaixonar de verdade. É o mundo que conta os segundos, mas não consegue perceber as horas que estão escorrendo por entre os dedos, perdidas.

                É o mundo onde se diz “eu te amo” todo o tempo, mas não sabe aclamar uma bela poesia. As pessoas daqui caminham olhando pro cinza do asfalto. Talvez seja porque elas sentem medo de levantar a cabeça e ver o céu. Pra lembrar quantos sonhos elas esqueceram, quantos valores se perderam, quantos amores elas não viveram e quanto tempo elas desperdiçaram sem se dar conta.

                Muitos anos atrás eu me imaginava hoje com um sorriso nos lábios, satisfeito com o pouco que tenho e conformado com as coisas que acontecem. Mas eu não quero mais esse monte de pessoas emolduradas num porta-retratos digital, dessa amizade virtual. Eu quero ver mais o sorriso das pessoas ao invés de ouvir a voz delas pelo telefone. Eu quero resguardar um beijo pra valorizar um abraço e apreciar os momentos. Eu quero um passeio no parque ao invés de uma noite de sexo. Eu quero viver.

                Antes havia tanta vida lá fora, era só abrir a porta. Hoje está tudo morrendo aos poucos, as pessoas fogem  para dentro de suas casas com medo da liberdade do campo. Elas querem assistir pela tela da TV, acompanhar pelo tablet e pelo monitor, mas não querem tocar o verde da grama e nem sentir o cheiro das flores. Há tanta vida lá fora, quanto falta vida aqui dentro. Quanto mais as pessoas se lembrarem de como viver, mais vão voltar as cores da cidade, pintar os campos e prédios de liberdade, e lembrar que o mundo não se trata SÓ DE VOCÊ. 

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