Sonhos,
responsabilidades, lugares, pessoas, tudo isso amontoa arrastando-se nos meus dias.
O mundo depois de crescer não era tão divertido quanto eu conseguiria imaginar há
alguns anos atrás. Quanto mais eu ando mais as paredes perdem sua tintura, os
prédios estão ruindo e tudo está ficando cada vez mais cinza. O céu não é mais
tão azulado e as coisas não são mais tão simples assim. As horas estão cada vez
menos vagas, as pessoas estão cada vez mais sozinhas enquanto todo mundo é
obrigado a estar junto a todo instante.
Pra
cada dia diferente existe um manual de um milhão de páginas, ensinando o que deve
e o que não deve ser feito. Cada novo projeto, cada novo passo dado, exige
esforço na incerteza da concretização. Aquele papo sobre “seguir os sonhos” não
parece mais tão fácil como era antes, “fazer o que gosta” passou a ser “fazer o
que gosta e bem feito”. O peso nos ombros curva as pessoas e faz com que elas se
esqueçam de olhar para as nuvens e vejam apenas o cinza do concreto.
Viver
um grande amor é muito mais complicado do que está escrito nos contos de fadas,
esforço nem sempre é recompensado com realização. Às vezes não existe uma
solução pra todas as coisas, as pessoas nem sempre vão tentar entender suas
dificuldades.
O mundo
que eu vivo é o mundo que distingue as pessoas pela cor da pele, dá valor às
pessoas de acordo com os automóveis que elas dirigem e que define o homem de
acordo com a quantidade de moeda que ele guarda no cofre. É o mundo onde se
distribui beijo na boca sem nem ter aprendido a se apaixonar de verdade. É o
mundo que conta os segundos, mas não consegue perceber as horas que estão
escorrendo por entre os dedos, perdidas.
É o
mundo onde se diz “eu te amo” todo o tempo, mas não sabe aclamar uma bela
poesia. As pessoas daqui caminham olhando pro cinza do asfalto. Talvez seja
porque elas sentem medo de levantar a cabeça e ver o céu. Pra lembrar quantos
sonhos elas esqueceram, quantos valores se perderam, quantos amores elas não
viveram e quanto tempo elas desperdiçaram sem se dar conta.
Muitos
anos atrás eu me imaginava hoje com um sorriso nos lábios, satisfeito com o
pouco que tenho e conformado com as coisas que acontecem. Mas eu não quero mais
esse monte de pessoas emolduradas num porta-retratos digital, dessa amizade
virtual. Eu quero ver mais o sorriso das pessoas ao invés de ouvir a voz delas
pelo telefone. Eu quero resguardar um beijo pra valorizar um abraço e apreciar
os momentos. Eu quero um passeio no parque ao invés de uma noite de sexo. Eu
quero viver.
Antes
havia tanta vida lá fora, era só abrir a porta. Hoje está tudo morrendo aos
poucos, as pessoas fogem para dentro de
suas casas com medo da liberdade do campo. Elas querem assistir pela tela da
TV, acompanhar pelo tablet e pelo monitor, mas não querem tocar o verde da
grama e nem sentir o cheiro das flores. Há tanta vida lá fora, quanto falta
vida aqui dentro. Quanto mais as pessoas se lembrarem de como viver, mais vão
voltar as cores da cidade, pintar os campos e prédios de liberdade, e lembrar
que o mundo não se trata SÓ DE VOCÊ.
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